18.8.06

O desabafo de Hugo Amorim

Depois da Copa do Mundo, quando decidimos manter o Linha Burra no ar, todo mundo combinou que não valia descambar para a flauta e o provincianismo. Não valia “eu sou campeão do mundo” nem “eu sou campeão brasileiro invicto”, resumidamente. Todo mundo pode assumir e defender suas cores clubísticas, mas mantendo o nível da piada, ou senão daqui a pouco um de nós aparece queimando banheiro químico por aí.

Por isso, nessa hora em que a vontade de sair gritando indelicadezas por aí é enorme, minha randômica memória fez uma hora extra e acabou lembrando do Hugo Amorim.

O Hugo Amorim era um colunista colorado que escrevia para a Zero Hora na década de 80. Ele estava ali para ser o contraponto do Paulo Sant’Ana. Mas, ao contrário do Sant’Ana, que era apaixonado e corneteiro, Amorim era um analista frio, formal, que só falava em esquema tático. Ele só falava em 4-3-3, 4-4-2, e chamava os jogadores abreviando seus nomes: L. Fernando, L.C. Winck e coisas do tipo. Certa vez eu e meus pais passamos por ele na Sandiz do Iguatemi (olha minha memória randômica aí de novo) e meu pai comentou: “o sonho desse aí é ser técnico do Inter”.

E era mesmo essa a impressão que ele passava com seus comentários. Pelo menos até o dia 12 de fevereiro de 1989. Porque no dia 13, logo após o Gre-Nal do Século, vencido pelo Inter por 2 a 1, Hugo Amorim despirocou. Ao invés de falar no óbvio – a virada do Internacional depois da expulsão de Casemiro –, ele fez uma coluna toda rabiscada a canetinha. E rabiscada com frases que eram pura flauta para cima dos tricolores. Só lembro de duas delas: “Taffarel é melhor que Lara” e “O Grêmio não passou de um Ameriquinha qualquer”.

No dia 14, a coluna dele já estava de novo falando no ponta-de-lança, no 4-3-3 e no L. Fernando. Aquela foi a única loucura da vida dele, e o timing não poderia ser mais perfeito: na rodada seguinte, o Inter começaria a perder o título para o Bahia.

Uma pena que não exista mais a coluna do Hugo Amorim na Zero Hora. Tenho certeza que ele rabiscaria outra daquelas colunas ontem, e faria um verdadeiro favor para mim, o Santi, o Rivo, o Vicente e os cinco ou seis colorados que lêem este blog.