Abaixo a Catimba
O João Havelange, quando era presidente da Fifa, dizia que o futebol era perfeito e que nenhuma regra precisava ser mudada. Mas, após a horrorosa Copa de 90, decidiu dar uma de “esqueçam-o-que-eu-escrevi” e proibir o goleiro de pegar bolas atrasadas com as mãos. A mudança funcionou, deixou o esporte mais emocionante e foi aceita pelo mundo inteiro, com exceção do Carlos Simon.
Agora, depois de mais uma Copa modorrenta, a Fifa de Joseph Blatter discute outras mudanças na regra. Já pensaram em diminuir o número de jogadores em campo para aumentar os espaços. Pode ser um teste interessante, mas esse não parece ser o problema. A gente já cansou de ver jogos de dez contra dez, e isso raramente faz deles um thriller.
Também já falaram na solução mais fácil e óbvia: aumentar o tamanho das goleiras e transformar todo goleiro num Jorge Campos em potencial. Essa é a pior alternativa de todas, porque os menos culpados de toda essa chatice são as goleiras e os goleiros. Nessa Copa, alguns deles poderiam ter ido até o vestiário, lido “Em busca do tempo perdido” três vezes, escrito uma resenha para a Ilustrada e voltado, que o jogo continuaria 0x0.
Goleiros vivem tomando gol por aí, alguns até facilitam por demais a tarefa, desde que haja um pré-requisito básico: o arremate a gol. E foi isso que faltou durante a Copa: os jogos foram disputados na intermediária, culpa do 4-5-1 que os treinadores insistem em utilizar, sem nem pagar royalties para o Mano Menezes. Como não dá para prender e autuar os retranqueiros por aí (o próprio Linha Burra sofreria prejuízo com isso, perdendo Loco Abreu, um de seus principais colaboradores), o negócio é agir para combater o primo-irmão da retranca: a catimba (foto).
A Fifa deu todas as brechas imagináveis para a catimba correr solta no futebol mundial: pediu para os juízes serem rigorosos, se negou a usar o spray para medir a distância das barreiras, e ficou insistindo no Fair Play a ponto de qualquer drosófila que pousa na perninha do atacante ser suficiente para interromper um contra-ataque. Agora, o Blatter que dê um jeito nisso, mandando os juízes pararem de aparecer, orientando todos eles a dar mais tempo de acréscimo (depois da cabeçada do Zidane, o Horacio Elizondo deu um mísero minuto a mais na prorrogação) ou, quem sabe, parando o cronômetro em todos os lances, como no futsal.
E que a Fifa faça isso já nesse Brasileirão, porque, se a Copa já foi insuportável, eu não quero imaginar como vai ser o próximo Fortaleza x São Caetano.
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