18.4.08

Dos pés à cabeça

Antigamente, bastava ter habilidade para ser um craque, para se destacar
no futebol. Garrincha hoje não conseguiria lugar em um time da Série B
do Brasileirão. Para poder jogar, teria que mudar seu perfil, seu estilo
de vida.

Os atletas sequer eram profissionais. Normalmente trabalhavam em uma
fábrica ou em um escritório ligado a algum conselheiro do clube no qual
jogavam. Eram liberados de um turno em um ou outro dia da semana para
que pudessem treinar. Esse era o único pagamento.

Posteriormente, com a profissionalização, a condição atlética passou a
ser valorizada. Quem corria mais, quem tinha mais força física chegava
antes na bola, fazia com que seu time tivesse mais chances de ganhar um
jogo. Tivemos então gerações do chamado futebol força.

Nestes últimos anos, após todos os times grandes e médios já terem
atingido esse necessário maior grau de profissionalismo, ser habilidoso
e ter boa condição atlética já não é suficiente. É preciso também que o
jogador tenha uma boa “cabeça”.

Um grupo extremamente motivado, mesmo com algumas deficiências técnicas,
é capaz de bater outro com atletas mais qualificados. E por aí é que se
justificam as maiores “zebras” já vistas. Até porque a superioridade
técnica ou física de A sobre B é sempre muito mais perceptível do que a
diferença motivacional, que é extremamente subjetiva. De onde ninguém
espera nada, é capaz de sair um elenco vitorioso.

Somente assim se explica a vitória do Internacional sobre o Barcelona,
no Mundial de 2006. Ninguém é louco de afirmar que o grupo de Abel Braga
era melhor que o espanhol. A diferença física certamente também não era
gritante.

E, da mesma forma que sobrou, faltou motivação para o próprio Inter no
Campeonato Gaúcho seguinte. Ou alguém teria a insanidade de dizer que o
Veranópolis era superior ao Colorado. Nesse caso, por raciocínio lógico,
poderíamos inferir que o Veranópolis seria melhor que o Barcelona...
Vale lembrar que do Mundial para o Gauchão seguinte o Internacional
havia perdido somente o zagueiro Fabiano Eller. O desmanche do Beira-Rio
foi posterior à eliminação do Estadual.