11.4.08

Ronaldinho Gaúcho

Ronaldinho Gaúcho é uma figura pela qual tenho significativo apreço.
Ultimamente tenho dado bastante valor ao lado pessoal dos indivíduos.

O futebol há muito deixou de ser apenas um esporte. A modalidade da bola
mais famosa do mundo envolve quantias milionárias, empresários
importantes e diversas estratégias de marketing, mas é bem mais que
isso: também deve ser vista como ferramenta capaz de mudar, mesmo que
somente um pouco, a sociedade em que vivemos. Os astros precisam dar
bons exemplos aos jovens dentro e principalmente fora de campo.

Ronaldinho já não precisava mais da imprensa. Jogava no Barcelona, já
havia recebido o troféu de melhor jogador do mundo na temporada. Fui
incumbido de realizar uma matéria com ele durante as suas férias no
Brasil, no final de um determinado ano, época em que era o repórter do
Sul de um dos principais sites de esporte do País.

Falei com o Assis, irmão do Ronaldo. Este me disse que o craque da
Seleção Brasileira não estava no momento, mas que iria retornar a minha
ligação assim que possível. Na hora, pensei que se tratava de uma falsa
promessa, que não conseguiria fazer a minha matéria.

Mas a surpresa veio uma hora depois. O meia ligou para o número que eu
havia indicado e, com extrema paciência, ficou por cerca de uma hora a
responder as mais variadas perguntas. Trata-se de um profundo respeito
não somente pelos profissionais de imprensa, que muito o ajudaram no
início da carreira, quando ainda era um moleque que sonhava em vestir a
camisa do Grêmio. O respeito também era pela torcida, que queria ler
algo a respeito do ídolo – um microfone nada mais é do que uma extensão
das massas.

Em uma rápida comparação, lembro de um lateral-esquerdo que, na ocasião
em que jogava pelo Juventude, ligava para o meu celular e pedia para dar
entrevistas em um programa que eu comandava em uma emissora de Rádio.
Seis meses depois, o atleta foi contratado pelo Internacional e, a
partir daí, fez questão de não me atender mais.

Um técnico da Seleção, por sua vez, sempre selecionou as suas
entrevistas, dando “papo” apenas para a de maior audiência no Brasil e
para a sua afiliada no Rio Grande do Sul. Ao invés de ao menos admitir
que não queria conversar com as pequenas, o treinador dava mil desculpas
(estava com pressa, tinha que pegar a esposa em algum lugar, etc).
Alguns metros depois, na sua caminhada para deixar o estádio
(Beira-Rio), parava e ficava o tempo que fosse preciso com a emissora
“grande”.

MOMENTO ATUAL
Ronaldinho sempre jogou com prazer. O que não quer dizer que jogue só
por prazer. As cobranças e os valores que acompanham a sua carreira são
exagerados. O conjunto ambiental muda a cabeça de qualquer pessoa.

Quando alguém entra em campo e é elogiado a cada jogada genial, fica
motivado a crescer. Até o ponto em que a gangorra se inverte. Os lances
geniais passaram a ser uma obrigação. Se ocorriam durante os jogos,
Ronaldinho estava “normal”. E se deixavam de acontecer, o craque já era
considerado como “em baixa”.

O ex-meia gremista precisa de um desafio renovado. Deve sair
urgentemente do Barça. Enquanto estiver no clube catalão, podemos dizer
que a sua carreira está interrompida.