6.10.08

Louça de visita

Quando eu era piá, havia um jogo de copos que não podiámos usar. "São pra visitas", dizia minha mãe. Anos mais tarde, ela teve que dar o braço a torcer, pois chegou num ponto em que, de tanto e e meu irmão quebrarmos os copos "comuns", começamos a utilizá-los no dia-a-dia. "Vê se desses vocês cuidam", nos dizia.

Enfim, eu lembrei dessa história sábado, no jogo do Grêmio. Por total falta de opção, Celso Roth teve que abrir o armário de louças "de visita" e colocar o Douglas Costa em campo, um guri que nunca havia jogado entre os profissionais, mas que dizem valer uns R$ 200 milhões. Pelo que eu vi, ele é realmente bom: chuta bem em gol, tem visão de jogo e é bastante objetivo, fez gol inclusive. Só acho meio ridículo proteger demais o piá. Se ele é tão bom quanto parece, tinha que estar jogando há mais tempo - ainda mais que o time vinha bem no campeonato.

Meu medo é chegarmos num ponto em que, de tanto esconder um "craque", só ficarmos sabendo se o guri é um Anderson ou um Bruno - para colorados, um Pato ou um Caíco - depois que ele for vendido. Gênio de categoria de base tem aos montes. Se a venda é inevitável, quero pelo menos o prazer de ver um craque em campo com a camisa do meu time, nem que seja por seis meses.

Voltando a história dos copos: o pior de tudo é que eles nem eram de cristal, eram de vidro mesmo. Ou seja: se minha mãe não os tivesse usado por necessidade, até hoje eu acreditaria na Lenda da Louça Intocável.