1.7.06

O retrato do Brasil


Em todos os jogos a partir das oitavas, a imagem final era de jogadores derrotados arrasados, estatelados no Gramado, cabeça entre as pernas. A exceção foram os brasileiros. Muitos jogadores terminaram a partida contra a França quase sorrindo – aliás o Cafu e o Ronaldinho passaram a Copa inteira com um riso irritante no rosto. A exceção foi o Gilberto Silva.
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O Brasil jogou as quartas-de-final como jogou todos os outros jogos. Leve e descompromissado. A vontade que dava durante a partida era de entrar no campo, sacudir Ronaldinho e Cia e dizer: meu isso, aqui é quartas-de-final de Copa do Mundo. Nossas estrelas não tinham – e não têm - a menor noção da importância do jogo e da responsabilidade do jogo.
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A certa altura, no meio da partida, meu pai me ligou:
- Oi, meu filho. Tu sabes que horas chega o vôo.
- Que vôo?
- Do Ronaldinho na Alemanha.
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Quarenta e dois minutos. Falta na boca da área francesa. As esperanças todas em Ronaldinho. Ele bate por cima, bota a mão na cabeça e sai rindo com seus dentes horrendos. Na foto acima, o retrato do Brasil.
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Agora, todos voltam para seus mundinhos de fantasia. O Ronaldinho, com o rabo cheio de dinheiro, continuará em todos os outdoors, comerciais de TV, estações de metrô, garrafas de refrigerante. Chegará às vezes em Porto Alegre, com seus seguranças, para curtir um showzinho da Alcione em casa, rodeado dos pagodeiros, do Assis e de suas putas do La Barca ou da Carmen.
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Venceu o time mais forte. O que marcou melhor, que se impôs fisicamente. Não existe time vitorioso sem marcação. E onde o Brasil queria chegar só com o Zé Roberto e o Gilberto Silva pegando no meio? Em seu campo, a França, com força física, anulou Kaká, Ronaldinho, Juninho, etc... Em uma boa equipe, os meias avançados têm de criar com a bola no pé e marcar firme sem ela. O Parreira, velho mordedor de língua, nunca soube disso.
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Como o Parreira conseguiu formar um time tão sem espírito de grupo, tão sem brios, tão descompromissado?