O mínimo
Um grande contribuidor deste blog, certa vez, ao voltar de uma temporada no Exterior, comentou que não acredita no Brasil porque aqui as pessoas não fazem sequer o mais básico da convivência humana: esperar os outros saírem do elevador antes de tentar entrar nele.
Ando a fim de anotar num bloco todas essas situações, em que as pessoas não fazem sequer o mínimo que se espera delas. No futebol, isso está muito presente. Alguns exemplos.
Saber chutar uma bola com os dois pés. Isso está melhorando, mas ainda é muito comum o jogador não conseguir nem subir em ônibus com o pé que não é bom. Em todos os jogos tu vê a cena do atacante entrando na área pelo lado direito, perdendo o ângulo e chutando de qualquer jeito com a direita (pé bom) ou pisando na bola, protegendo e cavando um escanteio porque é incapaz de cruzar com a canhota.
Comentaristas conhecerem os times. Há algumas semanas, numa mesa redonda da ESPN, um dos comentaristas falou o seguinte de Mano Menezes: "não conheço, parece estar trabalhando bem, mas não sei se é competente". O Grêmio era segundo colocado no campeonato, o treinador é um dos poucos no país que está desde o ano passado. Se eu, que só sou torcedor, sei quem é e o que faz o Ney Franco do Flamengo, o Vadão do Atlético, um comentarista tem obrigação de conhecer TODOS.
Comentaristas de arbitragem informarem as regras, e não só o que acham que o juiz deve ou não fazer. Frases como "o goleiro não tem nada que sair fora da área" (Arnaldo Cezar Coelho), ou "não foi impedimento, mas o bandeira não tem os recursos da televisão" deveriam ser consideradas crime hediondo. A gente não precisa de gente nos ensinando a sermos ponderados. Precisamos de gente que dê os fatos - a bola entrou ou não, a regra impede que o treinador fique de pé na área técnica ou não, o que a regra diz de falta por trás, FATOS.
Narradores narrarem o jogo. Não fazer piadas, não falar da má fase de um jogador, não dizer que vai num puteiro depois do jogo, não sugerir mudança em esquema de jogo, não perder tempo tentando levantar a torcida no estádio. Narrador serve para te dizer o que está acontecendo: quem está com a bola, quem correu para receber, avisar que o juiz tropeçou no canto da tela, etc.
Câmeras mostrarem o jogo. E não, naquele momento em que foi marcado um pênalti contra o teu time e todos os teus jogadores correram ensandecidos para cima do juiz, mostrar uma guriazinha com chapinha e camiseta customizada cutucando a amiga e dizendo "olha, olha a câmera!"
Jogadores manterem seu peso. Ronaldo Michelin foi para a copa 9 quilos mais gordo. Pinga, substituto do Tinga, chegou em Porto Alegre uns 11 quilos acima do seu peso. Um jogador ratear e ficar gordo é como um motorista de táxi deixar a carteira vencer, ou um médico esquecer de lavar as mãos antes de uma operação.
Jogadores cobrarem lateral como manda a regra. Eu torço pro Grêmio, e posso garantir: muitos jogadores não sabem cobrar lateral. Em um ano de segundona, não vi nenhum jogo do meu time em que alguém, gremista ou adversário, não reverteu um lateral.
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