12.7.07

Das Seleções

O genial da atual seleção argentina, pra mim, é o seguinte: il Capo Basile tá montando uma seleção para ser a melhor do momento. Como assim? Ele pegou os melhores jogadores do país em atividade, na opinião dele. Pôs os caras pra jogar. Montou um esquema de jogo. Fez os caras se entrosarem e jogarem de acordo com o sistema. Fez os caras jogarem em conjunto, pro time. Olha um jogo da Argentina, os caras só dão mais de dois toques na bola quando é muito essencial.

Não sei se é mérito do Basile ou é característica dos argentinos de quererem disputar a competição. Veio todo mundo que o véio chamou. No Brasil não vieram Kaká e Ronaldinho. Mas pra mim o pior foi o Zé Roberto ter pedido dispensa. Até não condeno a atitude dele: quando digo que o pior foi a dispensa dele, digo que foi pior para a equipe, porque com ele em campo, além da qualidade do cara o Brasil teria mais experiência e os jogadores, uma referência. Referência essa que o Robinho tenta ser, e que caiu no colo dele porque não tinha mais
ninguém pra tomar pra si a responsabilidade.

Voltando à Argentina. O Basile tá montando a melhor seleção possível.
Dessa seleção, o Verón e o Zanetti, por exemplo, não devem jogar a próxima Copa. Mas eles tão lá porque querem ganhar a Copa América e porque o Basile quer definir o padrão de jogo do time com eles lá. Quando eles sairem, os reservas que entrarem nos seus lugares saberão como o time joga. E o time não vai sentir tanta falta deles porque vai seguir o padrão de jogo. Mudam as peças, mas o esquema continua o mesmo.

Quando um time tem esse entrosamento que a Argentina tem, pode até se dar ao luxo de os craques não brilharem no jogo. Porque o time não depende do brilho deles pra ganhar. Dessa forma, se eles brilham o time estraçalha. Se eles jogam uma partida simples, "comum", o time
joga bem. E, por serem craques, podem jogar apenas bem e ainda assim terem momentos geniais, Como o passe do Riquelme pro primeiro gol, ou como o gol do Messi encobrindo o goleiro num toque simples, genial, preciso.

E aí é show.

Eu sempre achei que uma coisa errada do futebol brasileiro, principalmente da seleção, era os caras dizerem que com o nosso talento natural éramos indubitavelmente os melhores. Sempre achei que o talento natural, o gingado, o drible, deviam ser encarados como carta na manga, como fator diferencial, e não como fator de equilibrio. Deveríamos ter um esquema, um padrão de jogo. E o drible deveria se encaixar nisso. O drible seria uma espécia de recurso quando nada mais deu certo.
Mas o drible não pode ser "O" esquema de jogo.

Enfim, mais duas coisas que eu queria dizer:

1. É impressão minha ou a Argenitna tem técnicos de seleção muito melhores que o Brasil? Eles têm, de primeiro nível, o Basile, o Bianchi, o Menotti e o Bilardo. Tem ainda o Bielsa e o Passarela, que não são gênios, mas também não são imbecis. No Brasil atualmente, só o
Felipão eu considero de primeiro nível. O Luxemburgo pra mim ainda é mais marketing do que talento. E o resto ou é técnico de clube ou ainda tem muito o que provar. O que vocês acham?


2. Nada contra os jornalistas, mas contra o jornalismo imbecil.
Se não me engano, o contato dos Argentinos com a imprensa é bem restrito. Já os brasileiros dão entrevista a toda a hora e alguns tem até blog (!) direto das competições (ainda que tenham ghost writers). Queria ver uma Copa sendo disputada sem todo esse oba-oba pra cima dos jogadores da seleção. E sem tomar conhecimento do filho do padeiro da cidade do Robinho que jogava bola com ele quando eles eram pequenos.

Vicente