29.5.08

Adeus ao Rádio

(já que alguém aqui começou a debater a crônica esportiva...)

Ainda me perguntam sobre o motivo que teria me levado a abandonar o
radialismo esportivo. Comecei a cursar jornalismo tendo este, aliás,
como único objetivo. Queria porque queria acompanhar Grêmio e
Internacional nos seus jogos, tanto em Porto Alegre quanto no mais
distante estádio possível e imaginável.

Após um estágio em assessoria de imprensa, consegui rapidamente o lugar
desejado. Tive uma oportunidade fantástica em uma emissora da capital
gaúcha.

Logo de início, fiquei assustado com os baixos salários, com a falta de
estabilidade do mercado e a enorme exigência de tempo para o melhor
desempenho da atividade. Recordo com clareza que trabalhava sábados,
domingos e feriados, tendo folga apenas na segunda-feira (quando todas
as outras pessoas estavam fazendo suas coisas, aí eu é que parecia
desocupado).

Mas definitivamente não foram esses os principais problemas. Em primeiro
lugar, a falta de identificação dos jogadores/técnicos com os clubes foi
algo que me fez perder a paixão pelo futebol como um todo. Durante a
minha infância e até a adolescência, ficava chateado se o time A perdia.
Passei a encarar o mundo da bola como um filme ou uma novela, sem nenhum
envolvimento emocional.

Lembro de uma vez em que acompanhei o Internacional em um jogo
importante em Salvador. Vários ônibus saíram de Porto Alegre com
torcedores colorados – que pagaram ingresso, mataram dois ou três dias
de trabalho e ainda encararam um verdadeiro sacrifício nas esburacadas
estradas brasileiras.

Os atletas, que haviam ido de avião, estavam acomodados em um dos
melhores hotéis da Bahia e ainda estavam recebendo altos salários,
fizeram um verdadeiro vexame em campo. Até aí, tudo bem. Afinal, perder
faz parte do futebol.

Mas estes mesmos jogadores, depois da partida, passaram rapidamente no
hotel, tomaram banho e saíram rindo para a noite. Do outro lado, alguns
ônibus com abatidos torcedores do Inter ainda circulavam pela cidade,
novamente em direção às vias de saída de Salvador.

Ora, isso está cada vez mais comum no futebol. Os jogadores são
verdadeiros ciganos. Atuam em lugares em que nunca moraram, não possuem
nenhuma ligação com o clube ou com a cidade e, principalmente, sabem que
daqui a algum tempo já estarão desempenhando a profissão em outras
terras. Uma derrota não gera maiores comoções, a não ser na própria
torcida.

Por que pagar ingresso, gastar tempo indo a estádio e sofrer se, quem
perde, pouco está se importando com o resultado??? É triste, mas é o
pensamento que passou a tomar conta de mim.

O segundo aspecto que me levou a abandonar o radialismo esportivo –
talvez o principal deles – deixarei para comentar em outra oportunidade:
trata-se da falta de união da categoria.