23.8.06

Missa de sétimo dia


O Campeão da América morreu.

Os restos mortais jogaram hoje contra o Goiás e empataram em 2 a 2 num dos jogos mais ridículos que eu vi o meu time fazer em 26 de torcida. Foi como uma missa de sétimo dia. No início, o primeiro tempo, lembramos dos grandes feitos do falecido, o padre falava que todas as pessoas deixam sua marca na terra, sentimos a presença do morto na sala. As viúvas se esqueceram da tristeza por um instante. Em grande atuação, o time deu chocolate no Goiás. Fernandão em partida histórica.

O primeiro tempo termina 1 a 0, mas podia ser mais, muito mais. Está tudo ótimo. A atuação é tão boa que fica evidente que o time deveria ter fechado o primeiro tempo em 3 a 0 para garantir um segundo tempo tranqüilo. Um colega me comenta:

- Isso tá parecendo o Inter do passado. Eles não sabem matar o jogo. Me lembra do virgem que está tirando a calcinha da namorada. De repente, entra a mãe dela no quarto.

E a mãe entrou. Foi exatamente aos 16 minutos do segundo tempo, quando o Rubens Cardoso foi expulso por falta besta. O Goiás tinha perdido um jogado aos 3 do segundo tempo. Eles voltaram do intervalo sentando a lenha. Um festival de cartões amarelos. Igualada a partida em número de jogadores, o Inter teve um último suspiro: Fernandão recebeu bom passe na área e fez 2 a 0. Mas o time não merecia. Aos poucos, no ritmo pastoso da voz do padre - para voltar à liturgia -, o Inter foi se encolhendo, encolhendo, encolhendo, como a viúva que vai caindo na real ao final da missa.

Ediglê entra em campo para fechar a zaga. Dá uma rosca, leva amarelo, quase comete pênalti e, depois de cinco minutos de atuação sofrível, é expulso numa cotovelada mal sucedida. As viúvas caem no pranto. Rentería perde gol ridículo na cara do gol. Aos 39, o Goiás faz 2 a 1. Quem não viu esse filme? Aos 44, o Goiás empata. A viúva é carregada para fora da igreja, uma tia oferece meio lexotan para acalmar.

A boa notícia é que o Rubens Cardoso foi expulso. Não joga a próxima - e todas as outras, se Deus quiser.

Com sorte, o presidente vai conseguir juntar parte dos restos mortais e fazer um Frankstein novinho. O Inter precisa, principalmente, de um pulmão novo. O anterior foi transplantado no corpo de um alemão. Ouvi falar em Magrão e Kléberson, ambos jogadores de boa idade para a próxima copa e que estariam dispostos a abandonar mercados secundários do futebol (Japão e Turquia, respectitivamente) para ganhar espaço no coração de Dunga. Gosto deles. O carequinha Guiñazu, bom nome, mas parece que não vem mesmo.

Por enquanto, nos resta rezar pelo milagre da ressurreição.