17.9.06

Futebol, esta ímpia e injusta guerra

Dizem que no Brasil ser vice não significa nada. Só se for do Rio Mampituba pra cima: aqui no Rio Grande do Sul quem perde é tão valorizado que os gaúchos dedicam uma semana inteira a alguns dos maiores vice-campeões da história do Brasil: os Farrapos.

(Abre parênteses para os leitores não-gaúchos: a Semana Farroupilha, que começa hoje, comemora uma guerra iniciada pelos produtores de charque gaúchos da época. Eles se irritaram com os altos impostos que o Império colocava sobre o produto deles e resolveram colocar um bando de índio pobre que não tinha nada a ver com isso para lutar contra o poder central e tentar separar o Rio Grande do Sul do Brasil. Obviamente, o bando de índio pobre era muito menor que o bando de soldados do Império, e o Rio Grande do Sul tomou um tufo e acabou não se tornando um Uruguai que fala português. Muitos gaúchos comemoram isso por aqui como se fosse a Semana da Pátria. Curioso, não? Fecha parênteses).

Para exaltar o espírito Farroupilha, aqui vai uma lista de alguns derrotados que fizeram história no futebol gaúcho. Sirvam essas façanhas de modelo a todo time:

Grêmio (1982): O tricolor fez a final da Taça de Ouro (um dos 4.507 nomes que o Brasileirão já teve) daquele ano contra o Flamengo. Depois de empatar os dois primeiros jogos, perdeu o terceiro por um a zero no Olímpico. O juiz Oscar Scolfaro, a mando dos canalhas do Império, não marcou um pênalti claro que poderia dar o empate ao Grêmio: depois de cabeçada de Baltazar dentro da área, Andrade cometeu uma escancarada mão na bola. Scolfaro não marcou, alegando que a mão na verdade era do goleiro Raul Plassmann, que estava a uns seis quilômetros de distância. Uma prova de que o Império tem braços por toda parte.

Brasil de Pelotas (1985): graças a sua enorme e fanática torcida, o Xavante chegou às semifinais do formulesco Campeonato Nacional de 1985 depois de derrotar o Flamengo de Zico e Nunes em casa, no caldeirão do estádio Bento Freitas. Depois disso, o Brasil, devido a uma arbitrariedade do Império e sua aliada CBF, não pôde mais jogar no Bento Freitas, perdeu as semi para o Bangu e assim o país testemunhou a final mais escrota da história do Brasileirão.

Caxias (2001): em jogo válido pela última rodada da Série B em 2001, o Caxias perdia por um a zero para o Figueirense no estádio Orlando Scarpelli. Faltando um minuto e meio para o final, as tropas imperiais, sentindo que a virada caxiense seria inevitável, invadiram o campo e forçaram o árbitro Alfredo Loebling a encerrar a partida. A vitória do Caxias deixaria a série A com quatro times gaúchos, o que abalaria as pretensões do Império de se perpetuar no poder.

Internacional (2005): aqui o Império atacou nossos bravos soldados farroupilhas em duas frentes: primeiro, escalou o general Luiz Zveiter para anular três jogos do Corinthians quando o Inter ocupava a liderança do Brasileirão. Depois, com o Corinthians já na liderança, convocou o coronel da reserva Márcio Rezende de Freitas para fazer aquela lambança toda naquele lance do Tinga com o Fábio Costa. Suspeita-se também que Muricy Ramalho era um soldado do Império infiltrado em nossa tropa para garantir o vice-campeonato.