20.12.06

Depressão Pós-Gabiru

O lado ruim de ver seu time Campeão do Mundo contra o melhor time do planeta, com um gol de um reserva desacreditado, aos 38 do segundo tempo, é que dificilmente você vai se emocionar com outra coisa na vida. Livros, filmes, pfff. Comercial do Zaffari, faça-me o favor. Cura da Aids, grandes coisa. Nascimento do primeiro filho, e daí?, isso eu posso fazer umas dez vezes na vida. Invenção da máquina do tempo com direito a ver o show dos Beatles no telhado, com licença, vou ali bocejar e já volto.

Assim, já estava claro para mim que a recepção dos campeões no Beira-Rio não chegaria aos pés do que aconteceu no último domingo. Mas a organização do evento fez questão de deixar isso bem claro, enchendo a tarde de atrações desnecessárias.

Até o caminhão com os jogadores chegar, a torcida colorada teve que sofrer como jamais sofreu na vida (e olha que nosso currículo de decepções é vasto): teve show da Maria do Relento, de um grupo de pagode qualquer e, para encerrar, Nenhum de Nós. O Thedy Corrêa entrou no palco e gritou: “nós somos uma banda de coloradooos!” Detalhe: o mesmo Thedy vive dizendo que torce para o quase-extinto Cruzeiro de Porto Alegre, talvez por enxergar na situação do clube alguma semelhança com sua decrépita banda. Depois, quando todos sabiam que o caminhão de bombeiros já estava no estádio, o Nenhum de Nós pediu para tocar “só mais uma”, e recebeu uma vaia a la Michel.

Terminado o show, começa a execução dos hinos gaúcho e brasileiro, cantados por algum cantor de hino profissional. E, no meio do hino nacional, lá na parte do impávido colosso, entra em campo um bando de sujeitos sem camisa, que, percebemos em seguida, era o time do Inter. Eles não foram sequer anunciados no microfone.

A partir daí, os jogadores entraram, deram uma volta olímpica e depois resolveram se divertir, cada um para um lado: Clemer abraçava a taça, Edinho dava banho de mangueira na torcida, Fernandão falava ao microfone, Abel corria e pulava pelo gramado. A torcida aplaudia, mas até mesmo ela estava esquisita: o público não era o mesmo dos jogos de futebol. Tanto que, quando Luiz Adriano acenou para a Social, um considerável número de pessoas começou a gritar “Uh, Renteria!” para ele. Isso é, aliás, minha grande preocupação para a próxima temporada: ver o Beira-Rio cheio de torcedores de ocasião, a exemplo do que aconteceu com o Grêmio em 1995.

Saí no meio do espetáculo, para não contaminar minha memória, e deixar bastante espaço para replays em loop do gol do Gabiru e da cara de bunda do Ronaldinho. Só depois, já em casa, me veio a explicação óbvia para um evento tão broxante: nem a direção do Inter esperava que pudesse ganhar do Barcelona.