20.6.07

Dois tiros no coração


Os grandes assassinos da história sempre são conhecidos por três nomes. John Wilkes Booth matou Abraham Lincoln. Lee Harvey Oswald acertou a cabeça de John Kennedy com um tiro de espingarda. O assassino do imortal tricolor atende pelo nome de Juan Román Riquelme.

Dois cinco gols do Boca na final da Libertadores, três saíram dos pés de Riquelme. Nas duas partidas, o argentino jogou com liberdade, flanou pelo campo, deu passes, driblou os jogadores do Grêmio com toques elegantes e desconcertantes. Artistas como ele, que passaram grandes times como Barcelona, que já têm um Mundial Interclubes no armário, e que acaba de vencer a sua terceira Libertadores (uau!), ressurgem nestas horas.

Riquelme, é verdade, já teve três grandes decepções na vida. Depois de passagem brilhante pelo Boca nas temporadas 2000 e 2001, sumiu no Barça. Foi chamado de sonolento. Não brilhou como se esperava na Copa de 2006, onde era tido como o cérebro dos hermanos. Pelo Villareal, em 2006, perdeu o pênalti aos 44 minutos do segundo tempo que levaria o time espanhol à final da Liga dos Campeões da Uefa.

Pelo jeito, Riquelme cansou de perder. Cansou de ser conhecido como uma futura promessa, um diamante semi-lapidado. E resolveu descontar tudo no Grêmio. Naquele chute aos 23 minutos do segundo tempo, o camisa 10 do Boca colocou toda a frustração da carreira, lhe veio à cabeça a defesa de Lehmann no famigerado pênalti de 2006, lembrou-se porque havia sido escolhido o melhor jogador sulamericano de 2001, porque havia sido indicado ao prêmio de melhor jogador do mundo em 2005. Milagre não ter furado a rede.

O tricolor gaúcho não têm um jogador desse nível - e quase ninguém tem. E ainda faltou ao Grêmio um Jack Ruby que pudesse eliminar o assassino antes do golpe fatal. A frouxidão na marcação de Riquelme foi o único erro de Mano Menezes, que tirou todo o suco do limitado grupo gremista com maestria. Se tivesse repetido no Boca a pressão aplicada sobre o Santos na semi-final, talvez o DVD fosse um épico no estilo Spartacus e não uma história de assassinato.