Nem o mais otimista fanático torcedor brasileiro poderia imaginar um 3 X 0 frente à bem organizada e talentosa equipe argentina. Antes da partida, a dúvida era se perderíamos de um ou mais gols. Na crônica esportiva, além da suposta superioridade técnica do time argentino, havia uma revolta profunda com a observação de que o Brasil estava jogando com quatro volantes no meio-campo. É fato que o último jogo foi a apresentação mais convincente da equipe brasileira, tendo penado contra times bem mais inferiores nas etapas anteriores. O placar da final não deixou dúvidas sobre o merecimento da vitória. Podem ainda dizer que foi o jogo em que tudo deu certo, mas as coisas só podem dar certas para quem é competente.
Os sábios do futebol romântico – Alberto Helena Júnior e Renato Maurício Prado são alguns deles – afirmavam que era um absurdo não jogar com dois meias de origem. Analisando os jogos anteriores, também achava que o Diego deveria compor a meia cancha brasileira, mas também percebendo que a entrada de Júlio Baptista – considerado por muitos apenas um volante – deu maior consistência ao meio-campo. Então, pra mim quem está sobrando é o Gilberto Silva, que não deve jogar a próxima Copa do Mundo.
O mais engraçado de tudo foi ver alguns comentaristas justificando o sucesso de Dunga: “Ganhar a Copa América é uma quase que uma obrigação” (Michel Assaf), e “é, mas esse time do Dunga só jogou bem na final” (Telmo Zanini). Acredito que as duas proposições fariam todo sentido, se o time brasileiro fosse o A+ e o adversário não fosse a Argentina, com todos os titulares e que tem jogadores do mesmo nível técnico do Brasil. O fato de ser “amarelão” é problema deles.
As lições que ficaram desta Copa América:
1 – Um time de futebol, para ser competitivo, precisa de espírito coletivo, organização tática e entrega. Ter jogadores diferenciados, os ditos de exceção, é aspecto “ganhador” de partida – a carta na manga entre dois times similares -, mas antes disso é preciso ter aspectos qualificadores – sem esses é melhor nem entrar em campo -, que dão as condições necessárias de um time equilibrado, que marca, joga compactado e sai em velocidade. Parece o óbvio, mas alguns não aprendem com galáticos e quadrados mágicos da vida.
2 – A figura do terceiro volante se consolida nos desenhos dos times: a argentina jogou com Véron, que jogou muitas vezes como segundo homem na Inter de Milão, e o Brasil apostou em jogadores como Júlio Baptista e Elano. Os defensores da estética do futebol moleque, incrédulos, esperneiam, vociferam – querem Ronaldinho e Kaká juntos -, mas cada vez mais, os times colocam um volante que sabe jogar bem como meia. Afinal, parece muito mais fácil um volante virar um meia armador, do que fazer de um atacante um meia. Abel Braga que o diga.
3 – Lugar de estrela é em hollywood: o mais grato de tudo foi ver que ninguém desse time quis pousar de estrelinha, e o Dunga sabe muito bem como conter os ímpetos das vaiadades.
4 – É bem provável que Ronaldinho Gaúcho e Kaká não começarão juntos jogando as partidas - a não ser contra o Combinado da Úmbria ou a Seleção de juvenis do Quatar. Acho que Kaká leva vantagem, por ser mais versátil e mais aplicado taticamente, fecha melhor o meio. Só vejo o Ronaldinho disputando posição com o Robinho, que caiu nas graças do técnico. O dentuço irá assistir às partidas do banco do reservas, para a choradeira dos entusiastas do falacioso futebol arte.
5 – A Argentina vai virar o Botafogo das seleções: só faltam 7 anos para completar 21 – considerando Copa do Mundo e Copa América –, e no final eles sempre entregam a rapadura.
Enfim, não perderei o Bem Amigos de hoje. Tenho certeza que o Professor Ostermann dará uma lição no Alberto Helena Júnior e no Renato Maurício Prado.
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