26.3.08

Em defesa do capitão


Na atual temporada, Fernandão não vem tendo bom rendimento - até o mais cego dos colorados concordaria -, mesmo tendo um início promissor, na Dubai Cup, fazendo um dos golaços que garantiu o título frente à Internazionale.

As razões para a má fase estão longe de serem uma unanimidade entre a imprensa e torcedores. Alguns sugerem que a mudança de parceria no ataque, com a lesão de Nilmar, fez com que sua posição dentro de campo fosse recuada, sem que houvesse uma referência para fazer tabelas eficazes. Outros, simplesmente, acusam o ídolo colorado de ter perdido o interesse em jogar, e até mesmo acusam-no de ter desviado o seu foco de atuação profissional para a gestão de um empreendimento gastronômico, do qual é sócio.

Nunca ouvi uma vaia em uníssuno da torcida no Beira-Rio direcionada ao camisa 9 colorado, daquelas que Michel e Gabiru levavam impiedosamente. Resmungos e reclamações são comuns, quando o capitão tenta tocar de primeira e erra, ou quando perde uma dividida que parecia fácil de ganhar, mas parece haver um acordo tácito da massa vermelha de que Fernandão é Deus, e deuses não podem ser xingados sob pena de cometer uma blasfêmia.

O certo é que, com a entrada de Iarley, é visível a falta de um atacante com maior poder de finalização. Fernandão e Iarley desempenham funções de segundo atacante, preferencialmente, servindo um ao outro, e falta o cara para empurrar a pelota para dentro da cidadela.

Pedro Iarley – o jogador mais importante na final contra o Barcelona -, apesar de ser extremamente inteligente, aos 33 anos, já não tem mais o mesmo vigor para ganhar dos zagueiros, e usa o lado do campo para as jogadas de ataque, e quem entra na área, geralmente, é Alex ou Magrão. Por isso, até a volta do golden boy colorado, o jogador ideal seria Adriano, que em duas partidas mostrou por que foi contratado pelo Inter. Tem bom arranque e finaliza bem. Mas já sabemos que a filosofia abeliana segue premissas quase estóicas: primeiro os bruxos ou consagrados, depois os merecedores.

Altos e baixos têm sido uma constante na carreira do capitão colorado, desde sua estréia, com a marcação do milésimo gol da história dos clássicos gre-nais - a torcida colorada ganhava um novo ídolo que resgatava a arete colorada, e a partir dali, o Colorado Gaúcho começava a escrever o primeiro capítulo de uma epopéia vitoriosa. Após longas paradas, por lesão, ele sempre voltava capengando, mas dava a resposta assim que engatava dois ou três bons jogos.

Ao lado de Falcão e Figueroa, Fernando Lúcio da Costa – o Fernandão – está no rol dos jogadores mais importantes da história do Internacional, se não o mais. Não só por ter contribuído de forma significativa nas conquistas mais importantes do clube – a Libertadores e o Mundial FIFA -, mas também por sua liderança técnica e de grupo: visão de jogo e inteligência aliadas à gana de ganhar. Quem viu o filme dos bastidores e “Gigante” sabe do que estou falando.

Fernandão ainda tem muito para realizar no Internacional, a casa que o acolheu tão bem, e a recíproca também foi verdadeira. Longe de querer defender a escalação dele só pelo nome e biografia – já que isso seria aprovar os preceitos abelianos -, mas tenho certeza que sua manutenção no time do Inter é muito mais do que dívida de gratidão ou carteiraço.

Logo, logo, a ressureição do bom futebol estará de volta, assistências e gols ocorrerão naturalmente, como em 2006, em que os corneteiros, urubus de plantão e mães dinah wianetes já previam que o ciclo do capitão estava no fim. Se Abel o escala por convicção, gratidão ou medo, pouco nos importa, pois o lugar do líder no time é mais do que uma escalação acertada: é a mais pura expressão da vontade de ganhar e ajudar o time a ser campeão.