6.6.08

Falta de união na imprensa esportiva

Este é o segundo motivo pelo qual deixei de atuar no jornalismo
futebolístico. O panorama é ridículo. Os repórteres são verdadeiros
bonecos nas mãos de jogadores, técnicos e dirigentes de clubes.

No começo da carreira, o jogador pede para falar. Quer aparecer na
mídia, afinal, precisa disso para se promover. É assim, afinal, que
conseguem transferências para outros clubes, quem sabe até lembranças
nas convocações da Seleção Brasileira.

Mas o ciclo é sempre o mesmo. Depois que conseguem a sonhada
alavancagem, os profissionais passam a destratar a imprensa. Não que não
precisem mais da mídia, isso quase sempre precisarão – exceto as figuras
de destaque absoluto, como Ronaldinho Gaúcho ou Kaká, entre os
brasileiros, atualmente.

Só que qualquer profissional do futebol de destaque médio já sabe que,
mesmo destratando algum jornalista hoje, terá sempre os microfones
abertos no dia de amanhã. Ele sabe que pode escolher para quem falar,
que sempre terá um microfone à disposição.

Muricy Ramalho é uma figura clássica para este tipo de abordagem. Foi
com a imprensa enaltecendo o seu trabalho que ele saiu do Figueirense
para o Internacional e, depois, para o São Paulo. É claro que ele tem
mérito pelos resultados alcançados com estes times, mas talvez a
escalada demorasse bem mais não fosse o apoio da mídia.

O técnico, a quem falta educação, é o rei do tapa no microfone. Se na
primeira agressão a jornalista a classe se unisse, a prática deixaria de
acontecer em pouquíssimo tempo.

Se NINGUÉM mais falasse com o técnico a partir daí, ele sofreria enorme
prejuízo na carreira. Pela “dor”, mudaria de postura rapidamente.

Mas não é o que acontece, infelizmente. A classe jornalística,
principalmente no segmento esportivo, aqui no Rio Grande do Sul, tem
nota zero no quesito união. Se Muricy ou outro qualquer dá um tapa no
microfone do repórter da emissora A, o colega da emissora B continua
tentando entrevistar o treinador.

O que acontece então? Se B entrevista, o profissional consegue passar o
seu recado. E a emissora B ganha mais audiência, porque o torcedor é
passional e logicamente se importa menos ainda com o repórter da outra
emissora.

E o pior é que o quadro caótico não pára por aí. Os gerentes das
emissoras também não estão nem um pouco preocupados com os repórteres.
Na reunião seguinte, vão reclamar da queda da audiência e que o seu
repórter não ouviu, mesmo assim, o tal técnico (para seguir no exemplo
dado acima). No próximo jogo, são capazes até de deixar o repórter na
“geladeira” para evitar que a situação se repita.

Enquanto a união da categoria não acontecer, aqueles que fazem o futebol
vão continuar deitando e rolando. E os pobres jornalistas seguirão
sofrendo, como verdadeiros fantoches.

A solução seria simples: no primeiro tapa, na primeira agressão – física
ou verbal – a imprensa deixaria de entrevistar o responsável. Falta é
vontade!