5.7.06

O triste vôo do Beija-Flor


O Banco Central está prestes a tomar uma medida que vai tolhir a liberdade de expressão do torcedor de futebol no Brasil. É um atentado contra a livre manifestação. A nota de um real sairá de circulação, sendo substituída por moedas de mesmo valor.

O argumento do BC é nobre: uma cédula tem vida útil de 12 a 14 meses, enquanto moedas duram 30 anos. Mas está na cara que o doutor Henrique Meirelles jamais pisou numa arquibancada de concreto e assistiu ao seu time perder vergonhosamente num sábado de frio e chuva. Como o torcedor vai protestar contra os jogadores? Como chamaremos os atletas mais molengas de mercenários? O brado da cédula de um real no ar, ao som de palavrões furiosos nos estádios, é uma das mais contundentes formas de manifestação coletiva que se tem notícia.

O Banco Central espera que brademos uma nota de dois reais? Qualquer um se corromperia por dois reais, é o dobro do valor considerado aviltante pelo torcedor. Vamos sacudir moedinhas ao alto? Não tem o mesmo impacto visual, a moeda fica quase invisível na mão do torcedor.

Além de acabar com o legítimo protesto da arquibancada, o BC está colocando em risco a integridade dos jogadores. Não se surpreenda se o torcedor passe a jogar as moedas na direção do campo. Um real não vale nada mesmo.