19.3.07

Azenha: o caminho para a Glória

Se o mapa de Porto Alegre fosse a Bíblia, a Azenha seria a descrição do inferno. É de longe a pior rua para se dirigir na capital.

Se você escolhe a pista da direita, vai topar com seiscentos ônibus parando a cada duzentos metros. Se escolhe a da esquerda, vai ter que parar e esperar uns dez carros dobrarem à esquerda nas três ou quatro ruazinhas que cortam a avenida – ou talvez bater com o retrovisor na bunda dos milhares de pedestres que atravessam a rua fora da faixa. Se você escolhe trocar de faixa conforme a situação, vai raspar o fundo do carro no asfalto ondulado pelo calor infernal que faz ali.

Como você vai ficar um tempo parado, o negócio é relaxar, respirar fundo e admirar a paisagem, né? Não, não é. Respirar fundo é um convite ao câncer de pulmão em uma rua engarrafada como a Azenha. A paisagem é um monte de lojas amontoadas, vendendo baldes, botas, fogões usados. Fios de postes se emaranhando perigosamente. Botecos com os vendedores das lojas descritas acima coçando o saco e comendo churrasquinhos de animais ainda não catalogados pela biologia. Mulheres? Pfff. As mulheres que caminham por ali são as mesmas que compram as roupas encardidas de fumaça à venda naquelas calçadas.

Passei por lá esses dias e vi que a rua está em obras. Pior ainda. Se seguir a tendência de 90% das obras viárias de Porto Alegre, a Azenha vai ficar bem pior.

É por isso que, se eu fosse gremista, faria de tudo para que o futuro estádio do Grêmio continuasse por lá. Explico: a Azenha é a principal ligação entre boa parte dos bairros de classe média alta e o estádio Olímpico. Logo, muitos jogadores do clube têm que passar ali diariamente. E jogador que passa pela Azenha passa por qualquer coisa. Ganhar Brasileirão com gol de um reserva medíocre a cinco minutos do final? Barbada. Ganhar do Náutico com sete em campo? Tranqüilo. Se classificar para a Libertadores com um plantel limitadíssimo? Beleza. Alma castelhana o cacete. Se o Grêmio pode ser chamado de imortal, a culpa é toda da Azenha.