Badeco, Enéas e Maradona
O mundo perdeu de ver um meio-campo espetacular em 1975 formado por Badeco, Enéas e Dicá (ou Maradona). Ou, melhor ainda: Badeco, Dicá e Maradona, numa formação mais ofensiva.
Neste ano, a Portuguesa de Desportos, a simpática Lusa, deixou de comprar Diego Armando Maradona por US$ 300 mil. Na época, Maradona era um projeto de craque: tinha 15 anos e ainda jogava no Argentinos Juniors.
Não estou mentindo e, para provar, reproduzo uma reportagem da Folha de São Paulo publicada há alguns anos:
A Portuguesa se recusou a comprar o passe de Diego Armando Maradona em 1975. A revelação foi feita pelo empresário Juan Figer durante o programa "Toque de Bola", da TV Manchete, no último domingo. Figer ofereceu o jogador argentino por US$ 300 mil a Manuel Mendes Gregório, então diretor do clube paulista, quando os dois se encontraram no prédio da Federação Paulista de Futebol.
Segundo Figer, Gregório achou "um absurdo" pagar US$ 300 mil por um atleta desconhecido de 15 para 16 anos e encerrou a conversa. Maradona, que anos depois viria a ser considerado um dos melhores jogadores do mundo, jogava no Argentinos Juniors. O empresário explicou que fora convidado a assistir uma partida de Maradona por um procurador do jogador argentino. Viu, gostou, mas não conseguiu vendê-lo a um clube brasileiro antes que o talento de Maradona fosse reconhecido em seu país. Manuel Mendes Gregório não foi encontrado ontem pela Folha. Sua secretária afirmou que ele está passando suas férias em Portugal. Os familiares de Osvaldo Teixeira Duarte, presidente do clube na época, informaram que ele está doente e não tem
condições de dar entrevistas.
Marcel Figer, filho e sócio de Juan Figer, considera normal o fato. E explica: "Seria a mesma coisa se eu oferecesse hoje ao presidente de um grande clube um jogador completamente desconhecido e pedisse US$ 600 mil ou US$ 700 mil. Ele iria rir da minha proposta e esquecer o assunto". Ele contou que seu pai não pôde negociar Maradona no Brasil porque o jogador evoluiu cada vez mais e despertou a atenção dos clubes europeus. Em 1978, aos 18 anos, o "Pibe de Oro" era considerado
um nome certo no selecionado argentino que disputaria a Copa do Mundo. Entretanto, o técnico César Menotti preferiu não convocá-lo, mas admitiu, após o Mundial, que Maradona era o maior jogador de seu país. Nessa época, o Argentinos Juniors já pedia cerca de US$ 1 milhão pelo passe de sua maior revelação.
Se a história fosse outra e Manuel Mendes Gregório tivesse aceitado a proposta de Juan Figer, a Portuguesa ganharia um importante reforço para o seu meio-campo, formado então por Badeco, Enéas e Dicá.
Talvez o time do Canindé tivesse conseguido mais do que o vice-campeonato paulista de 75. A equipe da Portuguesa derrotada nos pênaltis pelo São Paulo na decisão era formada por Zecão; Cardoso, Mendes, Calegari e Santos; Badeco, Enéas e Dicá; Antônio Carlos, Tatá e Wilsinho. A tarefa de achar um lugar no time para o "Pibe" argentino
estaria a cargo do técnico Otó Glória.
Nélson da Custódia, na época vice-presidente do clube - cargo que ocupa hoje em dia -, declarou que nunca tomou conhecimento do fato, mas concorda com Marcel Figer: "Se estivesse no lugar do Mendes Gregório, recusaria da mesma forma". O dirigente citou o jogador Bentinho, 18, a quem considera um "fora-de-série" e fez uma ousada
comparação. "Qual seria a reação do presidente do Milan se eu lhe oferecesse o Bentinho, uma 'pérola' que temos no Canindé, por US$ 500 mil? Ele iria mandar me prender", encerrou.
Em defesa da Lusa, o clube era competitivo em 1975. Havia dividido o título de campeão paulista com o Santos em 1973 e foi vice-campeã em 75. Mais do que isso, tinha dois craques no meio-campo: Badeco e Dicá. Badeco era um elegante volante que foi considerado opção para a Seleção Brasileira. O sujeito até foi convidado para jogar na despedida do grande Eusébio. Ele aparece na foto abaixo com alguns craques:
E a Lusa tinha Dicá, o Mestre Dicá, um verdadeiro camisa 10. Maradona certamente enquentaria o banco de Dicá, um armador de lançamentos milimétricos, passes certeiros e que era considerado um exímio cobrador de faltas. Mestre Dicá, como é conhecido em Campinas até hoje, é o maior ídolo da história da Ponte Preta. É o maior artilheiro e o jogador que mais vezes vestiu a camisa da macaca. Em 1971, Dicá jogou com o Pelé no Santos de 1971:
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