19.5.06

Eu quero amendoim mofado


No início do ano, o Juca Kfouri fez em seu blog no UOL (não coloco o link aqui para não divulgar a concorrência) uma enquete para saber se seus internautas preferem torcer para a Seleção ou para o clube do coração. Deu clube, disparado. Poucos dias atrás, ele refez a enquete, acreditando que o espírito crescente de Copa do Mundo iria contaminar os internautas. Necas. Deu clube de novo, até mais disparado do que da primeira vez.

Dando uma de Galvão: eu sabia, amigo, que isso ia acontecer. E acontece, eu acho, porque a Seleção não nos faz sofrer o suficiente. OK, ela já andou bem mal nos anos 80 e 90, saiu da Copa da Itália nas oitavas-de-final, mas ainda assim ganhava quase todos os amistosos que disputava, e sempre figurava muito bem nos torneios continentais e demais campeonatos que encarava no período entre-copas.

A Seleção não tem tanta graça quanto o nosso time do coração porque, quando perde um jogo ou campeonato, não dá aquele medo de receber um torpedo malvado de algum torcedor rival, ser hostilizado na rua ou ter que ouvir buzinaço e fogos de artifício adversários (quer dizer, talvez isso aconteça com o Fabiano, que vai acompanhar essa copa na Argentina, mas é a exceção que confirma...ah, vocês sabem como termina essa frase). E nem tampouco dá o alívio de não precisar enfrentar tudo isso quando ganha.

Resumindo: futebol é bom porque faz mal. Em qualquer outro esporte coletivo, as pessoas vão com as famílias, pedem cachorros-quentes e fazem daquilo um evento social. As adolescentes vão aos jogos de vôlei pra ver se descolam um autógrafo do Giba e uma camiseta do Banco do Brasil. Os americanos são capazes de levar as gurias com quem estão ficando para o basquete para tentar impressionar.

Futebol não é assim. Pode reparar: as arquibancadas dos estádios de futebol são mais desconfortáveis, os cachorros-quentes têm as lingüiças mais causadoras de azia, os amendoins são os mais mofados da praça, os refris e cervejas já haviam chocado na rodada da semana passada, tudo porque quem está lá tem que passar mal mesmo. Mesmo que não consuma nenhum desses produtos aí, o torcedor passa mal xingando até as veias saltarem na testa, brigando com o torcedor ao lado, fechando os olhos pra não ver aquela falta bem na pontinha da área que o juiz marcou para o outro time, dando socos nos portões de ferro dos estádios na saída.

Como eu tenho o sentimento de que essa copa vai ser das boas, quero aproveitá-la com tudo o que tenho direito. E isso inclui toda a angústia de torcer pelo meu clube (e, acredite, a angústia de torcer pelo meu clube é muita). Por isso, estou escolhendo uma seleção alternativa com a qual eu possa, ao mesmo tempo, me identificar e sofrer bastante. Tem a Holanda, que, apesar de promissora, é o Rubinho das seleções. Tem a Espanha, que sempre morre lá pela oitava arrebentação. A Suécia, que sempre ameaça aprontar pra alguém. As opções são muitas, e é bem possível que a escolha só aconteça durante a Copa. Mas não custa nada já ir se preparando: neste sábado vou ao Beira-Rio, com chuva, de noite, diante do Figueirense, só pra comprar um bom estoque de amendoins mofados para acompanhar a Copa.